Luciana Colnago Feu Rosa
Há alguns milênios, no distante Oriente, um pensador cujo nome perdeu-se na poeira dos tempos cunhou um fascinante conceito conhecido como “setsu, getsu, ka”.
Trata-se de um daqueles textos simples, até óbvios demais. Mas talvez esteja aí, na simplicidade dos conceitos, o necessário contraste com uma atualidade cada vez mais complexa e incompreensível.
Sim, talvez fosse interessante, durante alguns momentos, um retorno à simplicidade de alguns milênios atrás, na busca de conceitos pequenos e eternos que nossa civilização tem condenado cada vez mais ao esquecimento.
Comecemos pela palavra “setsu”, que designa a neve – e através dela as estações do ano, em última análise o infinito passar do tempo. Esta figura, tão simples, deveria nos lembrar o quão efêmeros somos! Sim, o que somos nós diante de tantos séculos e milênios, diante da eternidade? Nada, absolutamente nada.
Mas nós não somos apenas efêmeros – somos também insignificantes. Sobre isto vem a segunda expressão, “getsu”, representando a lua, e com ela o universo infinito, a nos lembrar de nossa pequenez. O que somos nós diante da imensidão do mundo – esta pequena bolinha que povoa, juntamente com bilhões ou trilhões de outras, aquilo que chamamos “universo”?
Esta, sem retoques, a realidade da nossa existência: efêmera e insignificante! Somos efêmeros diante do tempo, e insignificantes perante o espaço.
Daí, conclui a curiosa figura oriental, devermos buscar alguma inspiração nas flores – “ka”, em japonês. São elas igualmente singelas e frágeis, mas buscam cumprir a pequena missão de, durante alguns poucos instantes, suavizar a vida em algum cantinho insignificante deste planeta.
Eis aí a tarefa maior das artes: à semelhança das flores, tornar menos áspera a vida no nosso mísero cantinho durante o mínimo tempo no qual aqui permaneceremos. Eis algo que, se observado igualmente por cada ser humano, eliminaria da face da Terra tantas misérias e tanto sofrimento. Simples assim.